Em “Para não dizer que não falei das flores”, Marcos Roberto transforma o ferro e a ferrugem em matéria de resistência. Ex-metalúrgico, o artista recolhe restos industriais, fragmentos de portões, ferramentas e cercas — resíduos de um país moldado pela extração e pela desigualdade — e os faz brotar novamente, convertendo o aço em seiva. A exposição reflete sobre o corpo operário como campo de batalha da modernidade — o corpo que sustenta, carrega e é corroído pela lógica da produção. Nas obras de Marcos, esse corpo retorna à cena não como instrumento, mas como força criadora. O ferro que sangra também germina; o facão, símbolo de corte e luta, se quebra em folhas e raízes. Entre o ferro e a flor, o gesto de Marcos Roberto é tanto denúncia quanto esperança. Sua prática é uma pedagogia do cuidado, onde o trabalho manual reaproxima o humano da matéria e devolve à arte a capacidade de imaginar futuro.