A produção intelectual de Mário de Andrade (São Paulo, 1893—1945) sobre música, artes visuais e arquitetura, seus romances, contos e poemas, além dos levantamentos etnográficos realizados pelo artista, foram e continuam sendo centrais para a compreensão do modernismo no Brasil e para a construção de uma ideia de identidade brasileira. O autor de Pauliceia desvairada (1922) e Macunaíma (1928) participou da Semana de Arte Moderna (1922), foi colecionador de arte e de folclore brasileiro, realizou registros fotográficos e fonográficos de suas viagens pelo país e criou o SPHAN – Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o primeiro órgão no gênero.As atividades e os escritos de Andrade, bem como a correspondência que manteve com seus contemporâneos do meio cultural, vêm sendo objeto de estudo desde seu falecimento. Contudo, somente em 2015, setenta anos após sua morte, quando todos os seus escritoscaíram em domínio público, a produção literária de Mário de Andrade começou a ser analisada à luz de suas preferências homoafetivas, um assunto considerado tabu até então.Mário de Andrade: duas vidas será a primeira exposição a tratar do olhar queer do colecionador a partir de uma seleção das obras de arte e imagens sacras por ele reunidas, hoje sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. A exposição será composta majoritariamente por desenhos e gravuras, sendo alguns apresentados pela primeira vez ao público, bem como um conjunto de fotografias captadas por Mário em suas viagens ao norte e nordeste do Brasil entre 1927 e 1935